Por Lilah Bianchi

Eu nunca concordei com aceitar um “casamento menor” – a união civil entre pessoas do mesmo sexo, ao invés do casamento civil. Sempre achei que devíamos lutar pelo que é o correto: direitos iguais. Nem mais e nem menos. E direito igual no que diz respeito a casamento é o casamento civil. Ah, vão dizer alguns, mas casamento vai gerar mais oposição das bancadas religiosas. Sinceramente? Eles já estão se opondo! Eles já estão mais preocupados com a resolução do Conselho Federal de Medicina do que com as centenas de mortos no Rio de Janeiro. União Civil ou não, eles serão contra. A questão é se a gente está disposto a ceder.

E a questão da liberdade religiosa? O Casamento Civil Gay contraria a liberdade religiosa? Vamos fazer um pequeno exercício de analogia para mostrar o que é respeito a liberdade religiosa e por que o casamento civil nada tem a ver com ela. Tomemos como exemplo um fiel adventista. Ele não pode exercer atividade remunerada, física ou mentalmente estafante no período entre o por-do-sol de sexta feira e o por-do-sol de sábado. O ENEM (exame nacional do ensino médio) já foi realizado num sábado à tarde. O ENEM é obrigatório por exemplo para acesso ao PROUNI. E como ficam os adventistas? Eles recebem permissão para permanecer no local da prova, desde o momento do início do exame, mas só começam a resolver as questões a partir do por-do-sol.

Veja bem, o respeito a liberdade religiosa dos adventistas não é mudar o horário do exame PARA TODOS OS ESTUDANTES. Isso seria impor a todos o que é um dogma APENAS dos adventistas. Fica garantido o direito deles de não fazer o exame em horário que contrarie suas crenças, mas seu direito não pode afetar o direito do resto dos estudantes de realizar a prova em um horário mais adequado. E o que o casamento civil tem a ver com isso? Aplica-se o mesmo pensamento! Garantir a liberdade religiosa no que tange ao casamento, não é proibir o casamento civil gay. Isso é IMPOR dogmas religiosos a toda a população e não liberdade. O Casamento Civil Gay só iria contrariar a liberdade religiosa se obrigasse religiosos a casarem com pessoas do mesmo sexo, contra a sua crença. Ou se obrigasse padres e pastores a casarem gays em suas igrejas.

Não é o casamento gay que contraria a liberdade religiosa nesse país, mas a liberdade civil e a própria Constituição, que diz que todos são iguais perante a lei, que está em jogo, enquanto se usam dogmas religiosos e o poder de bancadas fundamentalistas para legislar sobre vida civil num país laico.

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