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Com vocês, o público em geral

2 julho 2011 Nenhum comentário

Por Marcos Guinoza

Comunicado do SBT divulgado na quinta-feira, 30 de junho: “O SBT realizou uma pesquisa para avaliar o desempenho de ‘Amor e Revolução’. A pesquisa apontou a insatisfação do público em geral em relação às cenas de violência demasiada e ao beijo gay explícito”.

Não assisto essa novela. O autor, Tiago Santiago, é muito ruim. E a produção do SBT é pra lá de precária – nível “Maria do Bairro”, mas sem o plus dos divertidos e absurdos penteados e dublagens dos folhetins mexicanos apresentados pela emissora.

Pelo noticiário, soube que “Amor e Revolução” mostrou o beijo entre duas mulheres (as atrizes Luciana Vendramini e Giselle Tigre). Foi o primeiro beijo gay numa telenovela brasileira. Pausa: aplausos para o SBT pela ousadia. Fim da pausa.

O burburinho causado pela cena animou o autor, que prometeu apresentar um beijo entre dois pintos… Ops, dois homens. Mas, de acordo com o comunicado aí em cima, o “público em geral” não ficou satisfeito com o “beijo gay explícito”. Por isso, segundo o SBT, não vai mais ter beijo nenhum entre barbados.

Enquanto isso, diziam por aí que, em “Insensato Coração”, o romance entre Eduardo (Rodrigo Andrade) e Hugo (Marcos Damigo) ia pegar fogo. A primeira transa dos personagens aconteceria num motel. Mas a TV Globo, por considerar o lugar sugestivo demais, vetou o motel. E se vetou até o motel, por medo da reação do “público em geral”, não espere por mais nada, viu!

É verdade, a mais triste verdade. Quem manda no SBT, na Globo, no Brasil é esse tal “público em geral”. É a sua mãe, o seu vizinho, a professora do seu filho, o seu porteiro, a sua tia solteirona, o motorista de táxi, a crente de minissaia, o padre, o entregador de pizza, a sua empregada doméstica, o seu patrão, a sua manicure, o cobrador de ônibus, o motoboy, a Myriam Rios, o dono do boteco da esquina…

E você, bicha, não manda em porra nenhuma!

Pior. Esse “público em geral” pode estar aí, ao seu lado, fingindo que compreende e aceita o seu “homossexualismo”, mas, na hora de responder à pesquisa do SBT, desce o cacete em você e no beijo entre Luciana e Giselle.

Cuidado: por não ter rosto nem nome, o “público em geral” é ainda mais perigoso que o Jair Bolsonaro, o Silas Malafaia e toda a cambada evangélica do Congresso reunida.

Marcos Guinoza é jornalista. Mora em São Paulo. E escreve diariamente no blog O Idiota Feliz.

* Os artigos aqui publicados não representam necessariamente a opinião do Pará Diversidade.