Ativista LGBT é espancado por policiais civis em Belém
Por Keila Rodrigues e Ádria Azevedo – Redação Pará Diversidade
A madrugada desta segunda-feira (16) foi palco de atos de desrespeito e brutalidade cometidos por policiais civis contra um militante dos direitos LGBT, em Belém. Beto Paes, membro do Grupo Homossexual do Pará (GHP) e coordenador de articulação política do Movimento LGBT do estado, foi humilhado, xingado, espancado e ameaçado quando saía do Bar Refúgio dos Anjos, point GLS mais conhecido como Bar da Ângela, no Bairro do Guamá.
Ao se posicionar para os policiais como um cidadão ciente dos seus direitos, porém sem proferir nenhum tipo de ofensa, Paes foi acusado de desacato à autoridade e levado para a delegacia no camburão da viatura policial, ao invés de no banco traseiro do veículo, mesmo sem oferecer nenhuma resistência à detenção. Durante o trajeto para a delegacia e ao longo do procedimento de registro da ocorrência, Beto foi agredido fisicamente, humilhado verbalmente por ser homossexual, privado de seus direitos a um tratamento digno por parte da autoridade policial e ameaçado pelos membros da corporação que o prenderam, os quais insinuavam que ele sofreria retaliações caso fizesse denúncia. Até mesmo a advogada acionada pela família do militante foi agredida e destratada por um policial visivelmente transtornado. O procedimento do registro foi protelado ao máximo, de modo que a grande imprensa, que havia sido acionada e se dirigido à delegacia, desistiu de esperar, impossibilitando o registro e ampla veiculação deste grave caso de violação dos direitos humanos em Belém.
Abaixo, segue o relato do ativista ao Pará Diversidade a respeito dos acontecimentos:
“Os policiais chegaram ao local onde eu estava, no Bar da Ângela, sem nenhum tipo de identificação nominal. Com a justificativa de que tinham recebido uma denúncia de que o local era frequentado por menores de idade, solicitaram documentação dos clientes. Cerca de 20 pessoas entregaram seus documentos para averiguação, ao que os policiais puderam constatar que todos ali eram maiores de 18 anos. Em seguida, eles se dirigiram para o fundo do bar, justamente no momento em que eu estava saindo do estabelecimento, pois já havia terminado a festa. Então, lhes informei que o bar já estava fechando e que naquele momento não havia mais quase ninguém lá. Foi nesse momento que um deles começou a me agredir verbalmente, dizendo que lá [o bar] era um espaço de pessoas doentes, sempre utilizando os termos “viado” e “sapatão”, e que eu não tinha porque estar defendendo esse tipo de gente. Quando eu disse a ele “Olha, senhor, eu sou uma pessoa que atua nos Direitos Humanos, faço parte do GT de implementação do Plano Estadual de Enfrentamento à Violência e à Homofobia dentro do Consep [Conselho Comunitário de Segurança Pública] e o senhor não pode agir dessa maneira, pois todos nós temos o direito de estarmos aqui e o direito de ir e vir”. Ele me perguntou “Quem tu pensas que tu és?”, ao que eu respondi “Sou um cidadão”. Nesse momento, ele me deu voz de prisão, me empurrando para dentro da viatura. Em nenhum momento eu me opus ao fato de ele me deter, em nenhum momento eu os desacatei; eles simplesmente não queriam conversa.
Ao ser conduzido à viatura, eu me direcionei para sentar-me no banco de trás do veículo, ao que o policial disse que eu não iria ali, e sim no camburão, lá me jogando e me dando um chute. A partir desse momento, eu fiquei muito nervoso, pois isso nunca havia me acontecido. Ao chegarmos à Delegacia do Guamá, ele começou a inventar uma série de fatos, afirmando que eu os havia chamado de palhaços e os caluniado, sendo que em nenhum momento eu fiz isso, até tenho como provar que não fiz porque houve diversas testemunhas. Quando eu disse “O senhor está mentindo, eu não fiz isso”, o policial, visivelmente transtornado, partiu para cima de mim, me dando vários socos, chutes e tapas, enquanto eu apenas me defendia, sem reagir. Nesse momento, começaram a chegar meus parentes, amigos e uma advogada. Quando fomos fazer o boletim de ocorrência, um dos policiais disse que ela não podia permanecer na sala e a retirou do local, arrastando-a pelo braço.
Levaram-me para uma sala e me deixaram lá esperando, até o momento em que eles voltaram para informar que o Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) seria feito na Delegacia de São Brás, pois o sistema da Delegacia do Guamá estava fora do ar. Durante o trajeto de uma delegacia a outra, fui exposto a momentos terríveis de tortura psicológica. Entre os absurdos proferidos dentro da viatura, eles disseram que nós (LGBTs) não tínhamos direito a nada, que nós éramos seres humanos de segunda classe, que nós não éramos criaturas de Deus, que nós não tínhamos direito nem de achar que tínhamos direito e que, na opinião deles, nós não deveríamos nem existir. Além disso, fizeram ameaças do tipo “Olha, nós sabemos onde tu moras, os espaços que tu frequentas. Tu sabes que pra gente não pega nada, mas pra ti pode pegar muita coisa, pois a corda sempre arrebenta do lado mais fraco”. Além das ofensas morais e ameaças, propositadamente eles passavam com toda velocidade pelas lombadas do trajeto, para eu bater minha cabeça no teto do veículo, visto que eles estavam com cinto de segurança e eu não. O tempo inteiro, eles diziam que iam me pegar se acontecesse alguma coisa para eles.
Chegando à Delegacia de São Brás, eles apresentaram a versão deles, eu apresentei a minha e solicitei o encaminhamento para o Instituto Médico Legal (IML) para a realização de exame de corpo de delito, pois ficaram marcas no meu corpo por conta das agressões físicas sofridas. Eles ainda tentaram resistir a este procedimento, mas a advogada que me acompanhava insistiu e disse que eu tinha todo o direito.
O delegado, Dr. Pedro da Silva Monteiro, que estava acompanhando o caso, sequer olhou em meu rosto, e ouviu apenas a versão dos policiais. A todo momento, tentava criar circunstâncias para que eu me descontrolasse e eles pudessem me enquadrar em alguma coisa. No entanto, sei dos meus direitos e deveres e em nenhum momento agredi física ou verbalmente nenhuma das autoridades policiais que ali estavam. Quando percebi a insistência em me provocar, notei que se tratava de uma atitude corporativista do delegado, tentando a todo custo proteger a má conduta dos dois policiais civis.
O coordenador de Livre Orientação Sexual da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos, Samuel Sardinha, apesar de ter comparecido ao local logo após eu ter ligado para informá-lo do ocorrido, infelizmente não me acompanhou e se limitou a dizer que ia ficar “muito feito” para o estado se a denúncia fosse feita, uma vez que seria a imagem do Pará que seria comprometida por conta do ocorrido. Nesse momento, respondi ao coordenador que eu levaria o caso às últimas consequências, pois o meu direito individual também se reflete no direito de uma comunidade inteira. Me mostrei surpreso com o posicionamento do coordenador, pois a função da Coordenadoria de Livre Orientação Sexual é justamente fazer a relação com as outras secretarias do estado para que esse tipo de coisa não aconteça.
Mesmo com todas as ameaças, resolvi não me omitir e denunciar, pois, como ativista dos Direitos Humanos, não vou fugir dessa luta, pois assim como aconteceu comigo, pode acontecer como qualquer pessoa LGBT, e ninguém merece ser tratado dessa forma. Principalmente por se tratarem de representantes de um órgão que deveria respeitar e garantir a segurança do cidadão, e não cometer atos de violência como esse. Para isso, eu pretendo acionar a Corregedoria da Polícia Civil, fazer uma denúncia ao Centro de Referência e Combate à Homofobia da Defensoria Pública do estado e vou registrar o que aconteceu junto ao Consep, pois isto não deve ficar impune. As pessoas devem saber que a lei existe e é para todos, inclusive para a polícia, pois ela não pode ser a principal agressora dos direitos das pessoas, pelo contrário, tem que salvaguardar o direito do cidadão. Isso tudo aconteceu simplesmente porque o bar é um espaço frequentado por LGBTs e isso não pode mais acontecer”.
* Atualização: mais sobre o caso pode ser lido aqui.
Nossa…quanta ignorância, meu Deus!!! Até quando isso???
Parabéns pela matéria e veiculação de tamanha falta de humanidade por parte desses policiais nojento!
Tenho MEDO e NOJO toda vez que passo perto de um policial.
Esses marginais precisam ir pra cadeia e virar gay à força lá dentro! Essa sim seria uma punição adequada…
Indignada…
Ano de 2011 foi aprovado a Lei contra a Homofóbia, pelo visto essa Lei só ta no papel e a Corporação Policial ñ estão preparados para aplica-las. É lamentável q acontece isso no nosso Estado. Isso ñ pode ficar impune.
Eu estou bastante surpreso com a atuação do nosso coordenador Samuel Sardinha em relação a esse fato nunca esperava sinceramente que isso fosse ocorrer mas ai fica um alerta para as ongs quando forem escolher realmente os seus representantes!
Meu total repúdio aos policias que agiram dessa forma… e meu apoio incondicional a Beto Paes e a todos que lutam por direitos a todos os cidadãos…
mas que raio de O coordenador de Livre Orientação Sexual é esse? fala sério! ele quer preservar o Pará ou os conchavos dele?
Fatos como esse devem ser denunciados e apurados para punir os irresponsáveis. O ser humano tem o direito de ser livre.Tanto machismo revela o despreparo para o mundo atual.
É preciso organizarmos uma manifestação na frente da Secretaria de Segurança ´Publica. É preciso pedir um posicionamento do Governo do Estado, da Secretaria de Segurança, do Delegado geral sobre o ocorrido. Pode-se também solicitar uma manifestação da OAB e divulgar o máximo possível na imprensa e nas redes sociais este acontecimento. Estes poloiciais não podem ficar impunes e o Estado não pode se omitir diante deste ataque!!!!
Saudações,
Otávio Aranha
Sinceramente não contive minhas lágrimas ao ler o relato do Beto Paes, meu amigo e companheiro de luta por uma sociedade sem preconceito, sem homofobia. Enquanto lia seu relato, a indignação parecia tomar conta de mim, fiquei pensando quantos e quantos homossexuais são torturados e mortos pelo Estado diariamente. Fiquei pensando a contradição da Secretaria de Direitos Humanos que parece já ter nascida com cara de abortada. A certeza que temos é que o Estado mata seus cidadãos pela pobreza, miséria; pela falta de cultura, de saúde, de educação de qualidade; mata também pela sua orientação sexual, por sua cor, por seu gênero. Concluo, portanto, que precisamos matar este Estado para matarmos esses estados de coisas. Que precisamos construir outro modelo de sociedade onde as pessoas possam ter dignidade no sentido mais profundo da palavra e para isso é preciso que nos organizemos, pois quando os debaixo se movem os de cima caem. Só a luta muda a vida.
Isso é um absurdo!
sei bem o que ele passou, ja passei por uma situação identica aqui em santarém, eles não valem nada! Policial a classe mais nojenta e cheio de bandidos.. e digo com conhecimento de causa, dentro da policia é cheio de gay. bando de marginais esses policiais!
Aconteceu algo realmente parecido comigo aqui no estado de Goiás!!É Lamentável a conduta destes “defensores” dos cidadãos de bem como eu!! Espero realmente que vc consiga algo positivo por levar a denuncia em diante!
Estou revoltado! Por que esse terror contra o ativista de Direitos Humanos Beto Paes? Estou perplexo em saber que as autoridades policiais e representantes da sociedade civil ainda comungam a discriminação, a ignorância e a barbárie num Estado que precisa evoluir muito ainda em questões elementares do ser humano. Não há o mínimo respeito ao cidadão! Há quase uma década, saí do Pará e vim pro sudeste, em busca de mais tranquilidade pra encarar meus projetos de vida com mais coragem e sem preconceitos. Sofri muitos ataques homofóficos no meu próprio Estado. Às vezes, ainda chego a pensar que o exílio é única forma de fugir do terror e encontrar um pouco de paz e liberdade. Lutemos por justiça já! Torço pela superação do meu amigo Beto Paes. Que realmente surja um arco-iris em meio a esta paisagem tenebrosa!
Tô perplexa com total barbárie que passou o amigo Beto Paes, não é de hoje que policiais militares acabam atropelando os direitos homosexuais adquiridos e porém justos, perante a essa sociedade tão mal educada e mal informada, o justo seria que o governo quando fizesse concurso pra policial militar exigisse a perda total de direitos e expulsão da corporação caso o soldado não venha ter a qualificação necessária para exercer um cargo de total envolvimento com a sociedade de maneira geral e que passasse por testes de especificos mentais e conhecimentos gerais em relação a direitos adquiridos de todas as comunidades,raça e cor e deixar bem claro que ele é pago pra proteger a sociedade de maneira integra, solidária e com o conhecimento aprofundado de leis e direitos, não fazer uma ignorância e ser seres arrogantes como a grande maioria se comporta.
Geise Mélo
[…] Visto aqui, dessa fonte: […]
Olá, meu nome é Marco Mota e escrevo para me solidarizar com o Beto Paes e repudiar a atitude homofóbica, preconceituosa e nazista da polícia civil do Pará.
Li a matéria e creio que precisamos fazê-la repercutir nacional e internacionalmente.
Tenho contatos na imprensa e poderia contribuir com esta divulgação, mas precisava de alguém que pudesse ser a referência para falar com a imprensa.
Meu email é marquinho@faor.org.br
Um abraço solidário
estou indignado com tudo isso devemos fazer um grande protesto contra tal. abuso de poder devemos sair nas ruas lutar por nosso direto não vamos deixar isso impune. mostra que novamente oq ue o estado leza os seus proprios direito constitucionais
O que tenho a dizer, e o que os outros irão pensar?
Pará, uma terra com direitos de alguns, e deveres de muitos! Vivemos em um País de violações, vivemos em frustrações. Vem à pergunta: com quem estamos falando? Ou melhor, você pensa que esta falando com quem? Assim são as formas que os opressores se identificam em uma abordagem ao cidadão comum em nosso Estado, infelizmente. Falta de treinamentos, falta de conhecimento, até quando iremos deparamos com os descasos neste Estado? Mais uma caso de violação, que irá fazer parte da historia vergonhosa desse Estado. Digo NÃO a esse Pará, grande e forte nas violações de DIREITOS HUMANOS! DIGO NÃO a falta de preparo do cidadão e servidor publico do “Pará “GRANDE e FORTE”.
NÃO E NÃO, NINGUÉM DIVIDI a pouca vergonha deste fato ocorrido com o nosso militante orgânico LGBT, BETO PAES. E a CLOS, qual é o seu plano de trabalho?
Justiça é o que pedimos, há muito tempo neste pedaço de chão sangrento! Deste o tempo, em que aconteceu a maior chacina, na região sul do Estado. Salvo não me engano, o PSDB já fez parte dessa história antes…
NOÉ LIMA de Marabá
Minha total solidariedade ao Beto !!!
Esta fato precisa ser amplamente divulgado para que não se repita e os culpados sejam responsabilizados! Um deve ser organizado para publicizar mais ainda este crime cometido pelos agentes do Estado.
nossa! só espero que seja tomada as devidas providencias para que situações como essa seja evitada.
[…] Nesta sexta-feira (3), militantes pelos Direitos Humanos realizaram, em frente à Delegacia Geral da Polícia Civil, em Belém, um ato de repúdio à violência homofóbica cometida por policiais. O evento foi motivado pelas agressões físicas e psicológicas de cunho discriminatório sofridas pelo ativista LGBT Beto Paes, do Grupo Homossexual do Pará, por parte de policiais civis no dia 15 de janeiro, ao sair do Bar da Ângela, no bairro do Guamá (leia mais sobre o caso aqui). […]
Beto: caso o estado do Pará não apure os fatos de forma cristalina e, uma vez devidamente provado o que alegas, podes ir até mesmo as comissões de direitos humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos) e à ONU, respectivamente pela ordem. Se tais fatos aconteceram como detalhaste não pode o Estado do Pará nem o Estado brasileiro ficarem imunenes. Afinal nossa lei maior (constituição)diz que somos todos iguais. Polícia existe para proteger a sociedade de não para agir como bandidos. In casu” bandidos fardados que são pagos por nós. Vá à luta e boa sorte.
é lamentavel que coisas desse tipo, ainda acontesam em nossa sociedade que se diz tão moderna, onde um cidade é agredido verbalmente e fisicamente, por individuos despreparados, cuja a função da plocia militar seja zela pela segurança do individuo e não ao contrario.
Em quanto sofremos por não termo um parlamentar que tenha saido de nosso meio e que nos represente de fato, fica o movimento ainda carente de uma politização de fato, coisa que as paradas realizadas ainda não conseguiram fazer porque ainda arastas-e como ” um carnaval fora de epoca “, Equanto que “A marcha contra a homofobia ” consegue ter e ser, um voz ativa na construção de uma sociedade igulitaria .
viva Beto Paz e sua luta em favor do movimento glbtt.
É lamentável como nos dias atuais, ao invés de se andar para frente estamos regredindo, A Homofobia é algo muito sério, ela maltrata. só quem passa por algo é capaz de entender, eu particularmente sofro com isso. Vejo que ainda falta muita coisa a se fazer e cabe lutarmos a cada dia, com fé e coragem quem sabe um dia seremos reconhecidos. Pois se fala tando em direitos, mas na prática nada acontece na questão de valorizar o ser humano…