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Dia do Jornalista: o que estamos fazendo sobre a homo/transfobia?

7 abril 2015 Nenhum comentário

Repórter do SBT local faz comentário homofóbico no twitter

Por Uriel Pinho

Esse 7 de abril é meu primeiro Dia do Jornalista como jornalista formado e além das minhas contas pra pagar, eu fico pensando no quanto ainda precisamos trabalhar para fazer o que se espera de nós: informar, desconstruir, questionar. Especialmente em um estado como o Pará, estrangulado economicamente, com um mercado pequeno e dominado por duas facções políticas rivais.

Quando o assunto é educação para questões de gênero e sexualidade então, a coisa fica ainda mais complicada.

Além das reações ao beijo entre as personagens de Nathalia Timberg e Fernanda Montenegro em “Babilônia” da TV Globo, aqui mesmo no Pará, apenas no mês passado, oferecemos ao Brasil alguns exemplos de homofobia, e o que é mais sintomático: vindos inclusive de quem já é imprensa e de quem um dia será.

Pra começar, um repórter do SBT local, provavelmente comentando a novela de Nathalia e Fernanda, publicou no twitter que a TV Globo quer “enfiar guela (sic) abaixo que homossexualismo (sic) é uma coisa normal”.

Já do lado de quem um dia será mídia, temos uma caloura do curso de Comunicação da UFPA que destilou seu ódio, também no twitter, contra seus colegas de Faculdade. Justamente em um curso da UFPA conhecido por ser um dos mais receptivos com o diferente.

No caso dela, estudantes e direção da Faculdade deixaram claro justamente isso: a garota é uma voz isolada. O que a levou inclusive a repensar suas palavras e publicar uma carta de retratação sentimentalíssima, também nas redes sociais.

Mas até que ponto essa estudante está realmente sozinha? Até que ponto uma geração privada de lições sobre tolerância na escola, assistindo a uma mídia deseducada para a diferença e com representantes políticos que cada vez mais veem como lucro eleitoral a desumanização do outro, está realmente sozinha quando resolve ser discriminadora? Qual nosso papel como comunicadores nesse horizonte?

Para finalizar, vale lembrar também que neste mês de março tivemos a deputada federal pelo Pará Júlia Marinho (PSC) propondo a proibição de adoção por casais homossexuais, um dia após a decisão histórica e inédita do STF em reconhecer o direito de um casal homossexual de adotar uma criança.

A deputada é inclusive esposa do vice-governador do Pará, Zequinha Marinho, conhecido por declarações homofóbicas e autor do projeto de lei 7.018/2010, com a mesma finalidade do da esposa.

E tudo isso em um país campeão mundial de crimes motivados pela homo/transfobia e em um estado que, de acordo com relatoria final da CPI do tráfico humano (da mesma Câmara da qual faz parte a deputada Júlia Marinho), é parte de uma rede internacional de tráfico de pessoas, que atinge com especial crueldade jovens e adolescentes travestis.

Se é no jornalismo que se começa a escrever a história, espero um dia ler livros de história em que a intolerância pelas orientações de gênero e sexualidade seja uma atração exótica e asquerosa. Um dia em que meus bisnetos (filhos dos filhos dos meus filhos adotados) correrão com seus livros holográficos para me dizer “Não acredito que no seu tempo era assim, vovô! Tô pas-sa-da!”

Uriel Pinho tem 24 anos, é paraense e jornalista formado pela UFPA com período sanduíche na University of King’s College, Canadá. Namora o Pedro, é tio do Heitor e padrinho do Elias.

* Os artigos aqui publicados não representam necessariamente a opinião do Pará Diversidade.