Lésbicas em primeira pessoa
Por Andressa Oliveira
Essa data marca a importância de nós, lésbicas, quando celebramos o amor entre mulheres e as pequenas conquistas. Sem deixar, é claro, de lembrar de nossas lutas, nossa sobrevivência e nossas perdas. Um momento especial para a troca de experiências e fortalecimento coletivo.
Nós, mulheres, somos condicionadas desde o dia do nosso nascimento a cumprir certas regras sociais, sejam elas visuais, performáticas ou sentimentais. Uma mulher que subverte esses padrões é sempre vista como uma ameaça ao sistema patriarcal em que vivemos. A mulher lésbica é uma pária do patriarcado que coloca a mulher como dependente de um homem. Somos mulheres que amam outras mulheres, mulheres que tecem redes de amor, companheirismo e amizade com outras mulheres.
Esse debate, reflexão e ação não são necessários apenas aqui no Brasil. Temos agora um boom de estupros corretivos contra lésbicas no Peru. No caso da África do Sul não dá nem para considerar um boom. Enfim, vou me manter ao que nos acontece por aqui para ilustrar a importância de se falar sobre a lesbianidade.
Muitas gurias no processo de se assumirem como lésbicas têm seu direito à liberdade talhado pelos pais que acham que dessa forma vão mudar a orientação sexual e afetiva da jovem. Restrições financeiras também são usadas como “castigos” para impor mais limitações, sem falar em toda a agressão psicológica e invisibilização da lesbianidade. Uma mulher lésbica deve se reafirmar o tempo todo como lésbica para familiares e amigos. Ouvem que foi por falta de homem – daí começa o medo de estupro corretivo. “Falta de surra” é outra coisa que ouvimos. Toda essa violência afeta a saúde psicológica das lésbicas.
Estamos falando de mulheres lésbicas que sobrevivem a muitos tipos de violência. Mas levar uma vida “dentro do armário” pode ser ainda mais nocivo. Ambientes de trabalho não são acolhedores, famílias são muito rígidas, o medo de se revelar é assustador, então essas mulheres guardam apenas para elas o sentimento e o desejo por outras mulheres. Isso pode desencadear problemas psicológicos como depressão, síndrome do pânico e afins.
Uma trajetória cheia de violência e medo, sem dúvidas. AHHHHH!!! São tão lindas as sapatão!
Falar sobre visibilidade é também falar sobre todas as lésbicas e não ser excludente sobre como cada mulher se descobriu e se reconheceu como lésbica. Somos muitas e estamos em todo lugar. Existem lésbicas que, assim como eu, já tiveram relacionamentos heterossexuais e que se descobriram depois de mães. Temos o bonde ahazo das sapas gordas que vêm fazendo um barulho necessário sobre a questão do corpo. As fanchas negras, que sofrem o duplo preconceito do racismo e da lesbofobia, mulheres que são invisibilizadas pela sociedade e até por muitas lésbicas que procuram o “padrão Shane” (personagem da série The L Word) para se relacionar, reforçando a exclusão dessas mulheres em espaços lésbicos.
Ainda existem muitos desafios diários para que tenhamos visibilidade todos os dias do ano, mas 29 de agosto é nosso dia! Dia de nos levantarmos e verbalizarmos perante a intolerância de muitxs: somos Mulheres Lésbicas com muito ORGULHO!
Conheci nessa caminhada mulheres que me ensinaram a me respeitar, me amar e celebrar minha lesbianidade diariamente, mulheres que são para mim o referencial de amor lesbiano. É para elas e por elas que eu existo, resisto e me torno cada dia mais visível.
Fonte: Donas da Casa
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