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Estudo mapeia como funciona a cabeça de uma pessoa homofóbica

23 setembro 2015 Nenhum comentário

Por Carol Patrocinio

Antes de tudo é bom a gente definir alguns conceitos para falar a mesma língua durante todo o texto. Homofobia é a aversão a pessoas homossexuais. Ela não se manifesta apenas em agressões físicas, mas em posturas que temos no dia a dia. Achar que uma pessoa homossexual não pode trabalhar com crianças, por exemplo, é homofobia – já que ser gay e abusar de crianças são coisas muito distantes. Você pode acreditar que “prefere” não se relacionar fraternalmente com pessoas gays, mas essa preferência se baseia em apenas uma característica da pessoa, portanto fala muito sobre homofobia. Em resumo, homofobia é quando você ignora tudo o que uma pessoa é para focar apenas na sua sexualidade. Pensando assim, é um ato bastante sem sentido, não?

Infelizmente, a homofobia existe e é bastante aceita em alguns círculos. Não respeitar o que pessoas gays dizem, por exemplo, sobre o que para pessoas hétero são piadas e para gays são agressões, é uma prática muito comum. Para entender como funciona a cabeça de quem acredita que sua orientação sexual a torna uma pessoa melhor do que outra com orientação sexual diferente, uma grupo de pesquisadores italianos, liderados pela endocrinologista e sexóloga Emmanuele Jannini, da Universidade de Roma Tor Vergata resolveu mapear sentimentos que diferenciam pessoas homofóbicas e não homofóbicas (leia o estudo completo)

Em linhas gerais o estudo diz que quem é homofóbico tem traços de insegurança, é mais imaturo em relacionamentos, tem traços de personalidade marcados pela hostilidade, raiva e agressividade. Além disso, fatores como religiosidade, sensibilidade à repugnância, hipermasculindade e misoginia desempenham um papel de destaque no comportamento homofóbico.

É importante notar que quando falamos sobre esse estudo estamos mapeando a relação que as pessoas têm com homens gays – isso pode ser sentido pelas respostas e motivações. A mulher lésbica ou bissexual ainda é invisível para grande parte da sociedade, apesar de sofrer agressões tanto quanto os homens homossexuais.

Segundo a pesquisadora que lidera o estudo, a homofobia é uma “doença induzida pela cultura”, então vamos tentar entender ponto a ponto cada uma das características encontradas no estudo.

Insegurança
Quando você não é confiante sobre suas opiniões, escolhas e posicionamentos fica difícil lidar com pessoas que desafiam tudo o que você tem como verdade. O mundo diz que você precisa lutar com unhas e dentes pelo que acredita. Se uma pessoa foi ensinada a vida toda que ser heterossexual é o certo e que existe uma ordem natural das coisas, não é fácil olhar para quem não segue o mesmo que você e lidar com isso. Ninguém quer estar errado porque nossa sociedade trata isso como uma fraqueza.

Pessoas seguras têm mais facilidade em lidar com o diferente porque acreditam e confiam em si mesmas, sem medo de que alguém a desbanque, por isso é mais fácil aceitar o diferente.

Imaturidade amorosa
Saber se relacionar com outras pessoas dentro de configurações amorosas tem uma grande ligação com saber de relacionar fora desses relacionamentos. Quem não consegue aceitar negativas, quer tudo do seu jeito ou não respeita a outra pessoas como um indivíduo não consegue enxergar no outro, gay ou hétero, uma pessoa com direitos como os seus. Porém a culpa não é apenas da pessoa, mas da maneira que nossa sociedade nos ensina como devem ser os relacionamentos.

Hostilidade, raiva e agressividade
Não precisa explicar muito para entender que pessoas com essas características afloradas não são muito boas em resolver conflitos. A maneira de lidar com algo que as incomoda – seja por não ser algo comum em suas vidas ou algo com que elas não concordem – é a violência. Não seria diferente com a orientação sexual alheia. Olhar para o mundo exterior cheio de guerras e conflitos só faz com que essas pessoas acreditem que estão no caminho certo.

Religiosidade
Algumas religiões pregam que a homossexualidade é algo errado – essas mesmas religiões que seguem a Bíblia, livro que fala sobre relações homossexuais e de incesto em seu Velho Testamento. Essa pregação entra na cabeça das pessoas como verdades inquestionáveis e elas passam a seguir o que seus líderes dizem sem pensar melhor no assunto.

Sensibilidade à repugnância
Tem gente que não consegue lidar com o que não lhes é agradável aos olhos. Sejam pessoas gays, gordas, negras, deficientes ou que sejam, de alguma forma, diferente do que elas gostariam. Como elas reagem? Sendo repugnantes. Isso acontece porque o mundo é liderado por pessoas bem parecidas por muito tempo: homens brancos heterossexuais e ricos. Difícil tirar esse modelo de perfeição da cabeça.

Hipermasculinidade
A relação com a masculinidade vem sendo construída e desconstruída com o passar do tempo. Ser homem já significou muitas coisas que hoje são vergonhosas. E a atual masculinidade em sendo aprendida por homens ao redor do mundo diariamente. Alguns, infelizmente, ainda acreditam que ser homem é ter nojo de outros homens, não demonstrar sentimentos e agir como um ogro do tempo das cavernas.

Misoginia
Existem pessoas que odeiam mulheres e qualquer coisa referente a elas. Para misóginos tudo ligado ao feminino é fraco ou desprezível e essas pessoas enxergam, no mundo gay masculino uma proximidade muito grande com o mundo feminino. A ofensa, nesse caso, seria ainda maior porque são homens, que para os misóginos são fortes e perfeitos, se aproximando da fraqueza e abrindo mão de sua superioridade natural. E a sociedade, infelizmente, concorda em muitos pontos com as pessoas misóginas. Mulheres sempre são um problema ou estão causando problemas. Isso precisa mudar.

O estudo
Foram entrevistados 551 estudantes universitários com idade entre 18 e 30 anos. Primeiro eles deveriam dar classificar quanto reconheciam sua opinião em frases como “Pessoas gays me deixam nervoso”; “Acho que as pessoas homossexuais não devem trabalhar com crianças”; “Eu provoco ou faço piadas sobre pessoas homossexuais” e “Não me importa se meus amigos são gays ou heterossexuais”. Depois responderam perguntas sobre seus relacionamentos amorosos e então sobre seus mecanismos de defesa quando passam por situações desagradáveis ou assustadoras.

Fonte: Yahoo! Vida e Estilo