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Edith Modesto cria grupo para investir na boa relação de pais e seus filhos trans

18 dezembro 2015 Nenhum comentário

Edith Modesto

A escritora, terapeuta e especialista em diversidade sexual e questões de gênero, Edith Modesto anuncia com exclusividade ao NLUCON que criou o GPT – um grupo de pais de trans. A ideia é facilitar a aceitação e o convívio familiar entre pais e mães cisgêneros com seus filhos e filhas travestis, mulheres transexuais, homens trans e outras transgeneridades por meio da troca de experiências com outros pais de pessoas trans.

A iniciativa surgiu depois que Edith – que é conhecida e referência desde os anos 90, quando criou o Grupo de Pais de Homossexuais – percebeu que o número de pais de trans buscando ajuda aumentou. E que muitos se sentiam inibidos em conversar quando os assuntos se limitavam à questão de orientação sexual ou filhos LGB (lésbicas, gays e bissexuais cis).

“A dinâmica será semelhante à GPH, com um grupo fechado nas redes sociais só com pais de trans e elas terão contato com as mães facilitadoras, que vão ajudar neste processo de aceitação. Depois, teremos um encontro mensal com todos os pais e mães. E daí eu incluo os pais em geral, porque acho importante que outros pais (de LGB cis) saibam sobre a questão trans”, diz Edith.

Dentre as mães facilitadoras está a funcionária pública Maria do Socorro Silva Lima, mãe da estudante de arquitetuta e mulher trans Raul L. Silva, de 22 anos. “É muito bom ter alguém para conversar sobre nossos problemas. Lá ficamos à vontade, pois são pessoas que estão passando pelos mesmos problemas, pelas mesmas situações. Uns ajudam os outros com as suas experiências, vivências, com o seu modo de ver as coisas”, diz.

GRUPO NOVO, TRABALHO ANTIGO

Antes mesmo de abrir um grupo específico para pais que lidam com as questões de gênero, Edith recebia e trabalhava com famílias de pessoas trans. Tanto que no recente lançamento de dois livros (leia aqui), a mãe Ana Marques falou sobre a filha transexual Raphaela Laet e na ajuda que a terapeuta deu há 10 anos para toda a família.
“Com 13 anos a minha filha disse: ‘Eu gosto de homem, eu quero o seu cabelo e quero ser como você, o que eu sou? Vi uma entrevista da Edith no Jô Soares e fui atrás dela. Logo ela me disse: ‘Você tem um dos casos mais difíceis, que é o da transexualidade. Mas ela falou que iria me ajudar a atravessar essa ponte. Indicou médicos, endocrinologistas… Se não fosse por ela, talvez a gente tivesse sucumbido”.

Raphaela, que antes de ir ao consultório de Edith chegou a ser indicada para uma escola voltadas para pessoas com deficiência mental, também disse que sua vida mudou positivamente e que iniciou a transição de gênero ainda na adolescência. “Ela abriu muitas portas para os meus pais e nã época não existiam muitos modelos de trans ou grandes estudos. Ninguém me entendia e eu crescia muito sozinha. Então com 14 anos, por conta do trabalho da Edith, eu pude começar a minha transição”.

Maria do Socorro – que em breve terá uma entrevista ao NLUCON sobre o seu processo de aceitação – relembra a frase de outra mãe: “pássaros com a mesma plumagem voam juntos”. E diz que percebeu que, se não aceitasse a sua filha do jeito que ela é, estaria contribuindo para a infelicidade dela – “e consequentemente eu também seria infeliz, pois amo muito”.

“Naquele dia disse para ele que aceitaria. E, como eu ainda me negava a comprar roupas femininas, fui a uma loja e compramos muitas roupas e maquiagem, que ele adora. Ainda estou me acostumando a tratá-lo no feminino. Ainda não sai naturalmente”, admite.

VALE A PENA TENTAR A APROXIMAÇÃO

Em entrevista, a terapeuta declarou que a sociedade heterocisnormativa jamais prepara pais e mães para receberem filhos ou filhas trans. “Basta lembrar que, mesmo hoje, uma mulher grávida pensa, sonha, fantasia muita coisa sobre o bebê que está gerando, mas nunca lembra de que ele pode ser LGBT. E ele pode ser”.

Sobre a experiência com filhos trans, Edith afirma que entende cada vez mais que não se trata de pais ou mães perderem uma filha para ganhar um filho – ou vice-versa. Mas de entenderem que aquela pessoa sempre existiu.

“Aquela menina trans sempre foi uma menina, mas os pais é que não conseguiam enxergar pela sociedade. E aquele menino trans também sempre foi um menino. Penso que vale sempre a pena tentar essa aproximação de pais e seus filhos e eu tento sempre! O meu lema é sempre confiar no lado bom, no lado de amor que os seres humanos têm. Raríssimas vezes eu fui vencida”.

Os interessados devem procurar Edith por meio das redes sociais, pelo e-mail (edithmodesto@uol.com.br) ou por telefone (11) 3031 2106.

Fonte: NLUCON