Seminário na UFPA debate violência contra mulheres lésbicas e bissexuais

A mesa “Negritude e resistência lesbi” fez parte do seminário “Violência contra as lésbicas e mulheres bissexuais: Visibilidade e Resistência” (Foto: Michelli Byanka Almeida)
Por Michelli Byanka Almeida – Redação Pará Diversidade
O Auditório Setorial Básico I da UFPA foi palco, na última quarta (9), do Seminário “Violência contra as lésbicas e mulheres bissexuais: Visibilidade e Resistência”. Durante o evento, foi lançado o Coletivo Resistência Lesbi, que promoveu o seminário. O debate, que marcou a passagem do Dia Internacional da Mulher, reuniu alunas e profissionais para assistir mesas que debateram violência institucional, negritude, resistência, entre outros temas que surgiram durante as discussões.
Arlete Gonçalves, advogada e vice-presidente da Comissão de Diversidade Sexual da OAB-PA, abriu o seminário falando sobre o preconceito velado sofrido pela comunidade LGBT. Para ela, o Brasil é um país que não se diz preconceituoso, onde ninguém assume a discriminação de fato.
Como especialista em Ciências Agrárias, Arlete relatou, por experiência própria, o grande preconceito existente contra lésbicas que vivem no campo. Outra vivência marcante para ela é sua vida no meio religioso. A advogada chegou a ser freira antes de seguir a carreira jurídica, e até hoje continua sendo católica e frequentando os eventos da Igreja com sua companheira, mas não se sente aceita. “Sobre minha orientação e a presença de minha companheira, ninguém fala nada. É como se fosse uma pessoa que não existisse”, desabafou.
Arlete pontuou ainda a banalização da discriminação, expondo o registro de 500 pessoas LGBT mortas no Brasil no ano passado, por homolesbotransfobia. Ela comentou a existência do Princípio da Dignidade Humana, que é uma lei e deve ser cumprida. Porém, segundo ela, muitas vítimas de violência têm receio de denunciar.
Por conta de dados alarmantes como esses, Arlete destacou os casos sérios de estupros corretivos contra lésbicas e o alto índice de suicídio entre pessoas LGBT, cometido sobretudo por jovens e adolescentes com conflitos de aceitação pessoal, social e no próprio seio familiar. Ela lembrou ainda os casos de violência psicológica, muitas vezes ocorridos no ambiente familiar, e que por vezes chegam a ser ainda mais graves do que a violência física. “A sociedade brasileira não aceita que nós desafiemos o papel que nos é imposto de mulher cuidadora, dona de casa, ou que exerce profissões voltadas para o cuidado ao próximo, como de assistente social”, apontou.
A conselheira do Conselho Estadual da Diversidade Sexual Luana Mattos falou sobre a importância do empoderamento das mulheres, que, como mães que também criam homens, devem educá-los de forma a tratar bem outras mulheres. “Se eu sou educado, eu sou capaz de respeitar o outro, independente do que ele seja”, declarou. A falta de preparo de profissionais da saúde para atender o público homossexual e o estereótipo da pessoa LGBT diante da sociedade foram outros temas abordados pela militante.
A segunda mesa do evento, que teve como tema “Negritude e resistência lesbi”, contou com a participação de Lívia Noronha, professora de Filosofia da UEPA, e das ativistas Luciana Miranda e Maiara Ramos, da Rede de Mulheres Negras.
Lívia abordou a questão da violência institucional. “Ela existe dentro de instituições públicas e privadas, de uma forma discreta e sutil. A invisibilidade da dor da mulher agredida e a omissão da instituição são os maiores problemas que encaramos nesse âmbito”, declarou.
Além dessa dificuldade, as debatedoras comentaram outros fatores, como a hiperssexualização da mulher negra, o que se agrava ainda mais quando a pessoa é bissexual. “Tive uma grande dificuldade de me aceitar como bissexual. Me privei de me relacionar porque nem os heteros nem os gays me aceitavam. A sociedade vê o bissexual como uma pessoa promíscua e indecisa”, relatou Luciana . Para ela, é importante combater a naturalização de brincadeiras sexuais com negras.
Maiara Ramos criticou as estigmatizações sofridas pela comunidade LGBT. “As lésbicas são sempre vistas como as que não encontraram o homem certo. Além disso, todos nós, LGBTs, somos tidos como pervertidos, mas temos os mesmos desejos de estudar, ascender e constituir família”, finalizou.
Luana Mattos encerrou o seminário anunciando o lançamento do Coletivo Resistência Lesbi e convocou as participantes da plateia a integrarem o grupo. As interessadas em fazer parte podem entrar em contato pelo email resistencialesbi@gmail.com.
Confira fotos do evento: