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Estudantes da UFPA discutem a História da Transexualidade no Brasil

6 maio 2016 Nenhum comentário

A transexualidade ainda é uma questão pouco trabalhada sob a sua perspectiva histórica. Por muito tempo, as pessoas trans estiveram associadas ao movimento gay, fator que trouxe invisibilidade ao tema. Com a proposta de evidenciar esse tema, fomentando debates em locais além da universidade, estudantes do curso de Licenciatura em História da Universidade Federal do Pará (UFPA) promoveram o Seminário História da Transexualidade no Brasil. O Coletivo de Homens Trans do Pará apoiou o evento, realizado na última quarta-feira (4) no Conselho Regional de Psicologia. O evento serviu como quesito avaliativo para a disciplina Estágio Supervisionado IV, que tem como objetivo o ensino da história em ambientes não escolares, ministrada pelo professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da UFPA, Thiago Broni de Mesquita.

Combate ao preconceito – Resgatar a história da transexualidade no Brasil é uma forma de evidenciar o protagonismo dessas pessoas e suscitar o debate sobre a questão das várias identidades de gênero existentes. A jornalista Elck Oliveira, estudante de Licenciatura em História da UFPA e uma das organizadoras do evento, falou sobre a importância do tema. “Os trabalhos sobre esse tema no campo das Ciências Humanas, ainda que poucos, demonstram que está havendo um avanço nas Ciências Humanas e Sociais. Além disso, entendemos que, como futuros professores, temos a obrigação de nos aproximar dessas temáticas mais sensíveis para que, no futuro, em sala de aula, não reforcemos com a perpetuação de preconceitos tão presentes na sociedade contemporânea”, afirmou.

Segundo Elck, houve uma procura surpreendente de pessoas interessadas em participar do seminário. “Ao nosso ver, só mostra que, de fato, há uma grande lacuna no que se refere ao debate dessa questão. Nesse sentido, ficaríamos felizes em contribuir com essa discussão, apresentando novamente o nosso trabalho”, declarou.

Dificuldade – A pesquisa bibliográfica referente aos homens transexuais foi a principal dificuldade encontrada para a realização do evento. Segundo a estudante, a maior parte da bibliografia existente refere-se muito mais às mulheres transexuais. “Poderia dizer que é preciso discutir mais a questão da transexualidade e, de modo especial, dos homens trans, bastante invisíveis ainda nas poucas abordagens existentes”, ressaltou.

O Coletivo de Homens Trans do Pará é o primeiro grupo politicamente organizado e formado exclusivamente por homens transexuais do Estado. É uma organização política, apartidária, que tem por objetivo representar a categoria de homens trans perante as instituições, defendendo os interesses da categoria. Além disso, o coletivo também oferece acolhimento a esses homens e atua como um grupo de apoio, trocando vivências e dividindo experiências.

O movimento milita pelos direitos de transexuais e travestis ao reconhecimento das identidades trans. O arquiteto e coordenador do coletivo, Davi Miranda, falou sobre os propósitos do grupo. “Lutamos pela despatologização das identidades trans e lutamos, também, pela garantia dos direitos fundamentais a todas as pessoas trans, como saúde, educação e inclusão social; pelo reconhecimento do nome social; pela Lei João W. Nery, que visa simplificar o processo de retificação de nome civil. Então, de modo geral, nós, do movimento trans, lutamos por dignidade, por visibilidade e por respeito”, reforçou.

Para o futuro, Davi contou que o coletivo pretende oferecer apoio aos familiares de pessoas trans. “Temos um projeto futuro de oferecer também um apoio familiar, pois muitos dos nossos meninos ainda encontram bastante dificuldade de lidar com o preconceito neste ambiente”, revelou.

Avaliação – O seminário é produto da disciplina Estágio Supervisionado IV. De acordo com o Projeto Político Pedagógico (PPP) do curso de Licenciatura em História, o objetivo da disciplina é debater, com os alunos da graduação, a importância do ensino de História em espaços que não sejam a sala de aula, mas demonstrar que, ao contrário do que se pensa, a História não está “morta” ou encerrada no passado, mas ela é viva, dinâmica e fala muito sobre o nosso presente. Nesse sentido, o historiador, o professor de História e a História têm uma função social.

O professor Thiago Broni de Mesquita, coordenador e avaliador do projeto, explicou a escolha dessa forma avaliativa. “A partir de conversas com meus colegas da faculdade e com os alunos da disciplina, optei por trabalhar temas e questões provocadoras e para as quais somos exigidos diariamente em nossa profissão. Trata-se de questões atuais que devem ser historicizadas e problematizadas. Foi com base nesse momento inicial que surgiu a proposta de realização dos seminários”, explicou.

O evento fez parte de um ciclo de seminários que finalizará neste sábado (7), com o seminário “Belém, capital gastronômica: alimentação, história e patrimônio”, que contará com uma visita guiada ao Ver-o-Peso, onde os discentes farão uma apresentação sobre um pouco da história do nosso patrimônio gastronômico, desde o século XIX até o prêmio “Cidade Criativa”, conferido pela Unesco à capital, em 2015.

Texto: Edielson Shinohara – Assessoria de Comunicação da UFPA.
Fotos: Ádria Azevedo

Fonte: Portal da UFPA