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Roda de conversa debate vivências de mulheres que amam mulheres

23 maio 2016 Nenhum comentário

Por Ádria Azevedo – Redação Pará Diversidade

As mulheres lésbicas, além de sofrer com a LGBTfobia, sofrem também com o machismo – além de, possivelmente, outras opressões, como o racismo. Para marcar a luta de lésbicas por visibilidade e reconhecimento, foi criado no Brasil, em 1999, o Dia da Visibilidade Lésbica, celebrado todo 29 de agosto. Em 2008, a sigla GLBT mudou, no país, para LGBT, para dar maior destaque às reivindicações desse segmento.

Reconhecendo a importância da representatividade de mulheres lésbicas, o projeto Corpo Transitivo, que tem promovido rodas de conversa sobre diversidade sexual, realizou na última quinta-feira (19) a roda “Mulheres que amam mulheres – Lesbiandades do plural”.

A ideia foi discutir identidades e vivências lésbicas, em aspectos como saúde, feminismo, discriminação, violências e mídia. Para isso, estiveram presentes, como debatedoras, Elane Pantoja, mestranda em Antropologia, Priscila Anjos, mestranda em Psicologia, e Luana Mattos, militante e membra do Conselho Estadual de Diversidade Sexual. Na roda, LGBTs – sobretudo mulheres lésbicas e bis – em busca de empoderamento e profissionais de áreas variadas, conscientes da necessidade de conhecer o tema para melhorar o exercício da profissão.

A psicóloga Priscila Anjos estuda o tema “Lesbianidades e Psicologia Social”. Nesse sentido, ela comentou alguns aspectos que permeiam suas pesquisas, como gênero, heteronormatividade e, especificamente, performances de gênero nas lesbianidades. “Existe uma pretensa continuidade entre sexo, gênero e performance. É preciso mostrar que isso tudo é uma construção social. Por que corpos femininos não podem ser também masculinos?”, questionou.

Já a antropóloga Elane Pantoja, que estuda a constituição de famílias por casais de mulheres, chamou a atenção para o termo “mulheres que amam mulheres” como incompleto. Ela acha mais adequada a expressão “mulheres que se relacionam afetiva e/ou sexualmente com mulheres”, por considerar que nem todas amam apenas mulheres, como as bissexuais, ou nem todas amam outras mulheres, mas apenas fazem sexo com elas.

Elane também comentou sobre outras questões, como o feminismo, que para ela, apesar de hoje não mais excluir lésbicas como fazia no passado, ainda não pautar suas demandas. Também foram abordadas a desvalorização da orientação sexual com argumentos como “não ter sido comida direito” e sobre o despreparo de profissionais de saúde para lidar com as necessidades específicas dessa população. “Já ouvi relatos de lésbicas que precisavam fazer teste de gravidez todo mês ou que foram informadas de que não precisariam fazer preventivo, o que é um absurdo”, denunciou.

A ativista Luana Mattos, que é radialista, fez um relato das experiências de preconceito que já vivenciou na profissão. Ela explicou que precisou se impor para ser respeitada e que é comum lésbicas precisarem “ser muito mais do que os outros” para conseguirem se firmar. Luana também contou como, com o tempo, conseguiu levar o tema com naturalidade para a rádio comunitária em que trabalha. “Passei a, por exemplo, mandar beijo para a minha ex-esposa, assim como todas as pessoas heterossexuais fazem com seus companheiros e companheiras no rádio. Também procuro dar um direcionamento sem preconceitos na emissora, sobretudo por ser responsável pela programação gospel”, explicou.

Outro aspecto relacionado ao mundo do trabalho abordado por Luana foi a questão dos estereótipos de profissões para pessoas LGBTs. “Uma vez, recebi ligação de uma ouvinte surpresa por eu ser radialista, porque LGBTs são vistos como pertencentes a trabalhos específicos, como o gay cabeleireiro. Eu disse a ela que ela poderia ser o que ela quisesse!”, exclamou. A militante também criticou a maneira fetichizada como lésbicas são retratadas na mídia, comumente para agradar os olhares de homens.

Corpo Transitivo

O projeto Corpo Transitivo é um fanzine sobre diversidade sexual, contemplado pelo edital “Comunica Diversidade 2014: Edição Juventude”, do Ministério da Cultura. A publicação, que tem versão impressa distribuída gratuitamente mas que também pode ser lida nesse link, teve a colaboração de ativistas e estudiosos da temática para os textos e artes.

Lucas Wilm, um dos idealizadores do projeto, conta que a proposta inicial de fazer uma fanzine acabou se ampliando para outras possibilidades. “Passamos a realizar rodas de conversa, como desdobramentos do que foi publicado na fanzine. Também estamos pensando em fazer um vlog no Youtube ou um documentário sobre as rodas e a resposta do público a tudo isso”, adiantou.

A próxima roda de conversa do Corpo Transitivo deve acontecer em junho e pretende abordar bissexualidade, pansexualidade e assexualidade. Para saber quando vai ser, basta acompanhar a fanpage do projeto no Facebook.

Veja abaixo as fotos da roda de conversa “Mulheres que amam mulheres – Lesbiandades do plural”