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Parada LGBT de Belém completa 15 anos defendendo o direito à diversidade

17 outubro 2016 Nenhum comentário

15ª edição da Parada do Orgulho LGBT de Belém teve como tema “15 anos! Todos pela diversidade de nossa sociedade” (Foto: Ascom Sejudh)

Como manda o figurino em uma festa de 15 anos, a 15ª edição da Parada do Orgulho LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) de Belém levou colorido, música e alegria para as ruas da capital paraense na tarde e noite deste domingo (16). Com o tema “15 anos! Todos pela diversidade de nossa sociedade”, o evento, promovido pelo Grupo Homossexual do Pará (GHP), em parceria com diversas secretarias do Governo do Estado, levantou a bandeira do respeito e da igualdade de direitos à população LGBT do Pará.

A concentração do cortejo começou ao meio dia, na escadinha da Estação das Docas. Por volta de 15h, os milhares de participantes da 15ª edição do evento iniciaram a passeata pelas avenidas Presidente Vargas, Nazaré e Assis de Vasconcelos, com encerramento na Praça Waldemar Henrique, onde artistas locais se apresentaram ao público.

Ao longo de todo o trajeto, autoridades governamentais e representantes de movimentos sociais do Pará e do Brasil tiveram a oportunidade de falar com os participantes sobre a importância da Parada para o cumprimento de uma agenda de lutas em prol dos direitos da população LGBT no Estado. “A gente sabe que são muitos desafios pela frente, mas olhar pra trás nos enche de força e coragem, porque já ultrapassamos muitas fronteiras nesses anos de luta na causa LGBT. Nas nossas diferenças, a gente soma as forças e avança”, afirmou Beto Paes, gerente de Livre Orientação Sexual da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Pará (Sejudh).

Para o secretário de Estado de Justiça e Direitos Humanos, Michell Durans, a Parada é um evento de comemoração, mas não só. “É um momento de festa e reflexão, que surgiu da resistência. É importante que uma movimentação como essa, envolvendo o governo e a sociedade civil, possa se consolidar em seus 15 anos, que é a idade da transparência e da maturidade. Unidos, nós vamos avançar ainda mais”, disse.

“Estamos no segundo ano do Pro Paz e é o segundo ano que a Fundação apoia a parada, juntamente com a Sejudh e outros órgãos e secretarias, de forma integrada. A pauta LGBT é a pauta da sociedade, e não a pauta de um governo. Por conta disso, estamos levando debates para as escolas, para propagar o diálogo e o respeito ao próximo, independente de religião, cor ou orientação sexual. Respeito é a base de tudo”, destacou o presidente da Fundação Pro Paz, Jorge Bittencourt.

Segundo Carlos Magno, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transsexuais (ABGLT), a Parada de Belém é uma das mais representativas do país. “É a maior manifestação LGBT do Norte do Brasil e ao completar 15 anos mostra que não é mais só um evento LGBT, mas sim um evento da cidade, consolidado, organizado, bonito, que conta com o apoio da população. A parada não é só um evento de visibilidade, ela potencializa a incidência do poder público para a construção de políticas públicas e respeito para a nossa comunidade”, destacou.

Sebastian Salustiano, vice-presidente do Fórum Trans da Amazônia, afirmou que a resistência é uma forma de militância diária, em todos os lugares da sociedade. “Nossas vitórias ainda estão em passos lentos, mas é pela luta que as coisas mudam. A Parada tem uma importância muito grande na luta contra o preconceito e para alertar a população sobre a existência da transfobia. Esse estreitamento entre os movimentos sociais, a população e o governo é essencial para a criação de políticas públicas em favor da nossa causa”, disse.

Adelaide Oliveira, presidente da Cultura Rede de Comunicação, ressaltou que as pautas LBGT estão presentes cotidianamente na programação da Rádio, TV e Portal Cultura. “Como uma fundação pública de comunicação, a gente dá visibilidade à causa LGBT em pautas no dia a dia. A gente não cobre a comunidade LGBT só quando tem parada, porque isso é uma pauta que tem que estar em todos os veículos de comunicação. Quando a gente fala de direitos LGBT, a gente está falando de direitos humanos. Esse ano, por exemplo, a gente também fez a chamada do evento, que foi compartilhada nas redes sociais. E é o mínimo que a gente pode fazer”, afirmou.

A travesti Duda Lacerda faz parte da coordenação da Parada LGBT de Belém. Para ela, olhar para trás dá forças para crer em um futuro de ainda mais avanços e conquistas. “A visibilidade que nós temos hoje era impensável há 15 anos. Uma travesti ou uma transexual frequentar a escola e utilizar o nome social dela, como nós temos hoje, é um grande ganho. A gente tratar da saúde dessa travesti ou transexual em um ambulatório próprio também é um avanço gigantesco. Espero ter mais 15 anos de lutas e principalmente de vitórias”, comemorou.

A secretária de Estado de Integração de Políticas Sociais, Izabela Jatene, considera que novas parcerias devem ser estabelecidas para que outras conquistas sejam garantidas para a população LGBT. “Nós precisamos garantir no espaço escolar, sobretudo no ensino médio, a aceitação do outro. Nós precisamos envolver as famílias na compreensão das diferenças e criar laços de amor e acolhimento à comunidade LGBT”, frisou.

O transgênero José Bernardo Souza, de 18 anos, é coordenador de comunicação do Fórum Trans da Amazônia e filho de Norma Coeli, que comoveu, há alguns dias, milhares de internautas em uma rede social ao falar sobre seu filho. “O relato da minha mãe foi um comunicado para minha família e alguns amigos, para que eles soubessem o que estava acontecendo e pudessem me respeitar. Teve uma repercussão muito grande, que a gente não esperava. Infelizmente, algumas pessoas denunciaram a postagem, que foi excluída pelo Facebook, juntamente com a conta da minha mãe, que ficou fora do ar por 24 horas”, disse.

Bernardo se assumiu transgênero para os amigos e familiares mais próximos aos 17 anos, mas relata que foi necessário um processo para isso. “Desde muito pequeno eu percebia a diferença, sempre preferi brincadeira de menino, de futebol. A transgeneridade não é uma coisa que a gente escolhe, a gente nasce assim. Ter conseguido a carteira de nome social foi uma liberdade, um respeito comigo mesmo”, comemorou.

Texto: Leba Peixoto, com colaboração de George Miranda – Ascom Sejudh

Fonte: Agência Pará