‘Foi homofobia’, diz engenheira que denuncia ter sido agredida por pastor em Belém
A Delegacia de Combate a Crimes Discriminatórios (DCCD) da Polícia Civil do Pará investiga uma denúncia de agressão por homofobia. Segundo os policiais, um pastor é suspeito de ter desferido tapas e socos contra uma mulher, que relata ter sido arrastada para dentro de uma igreja evangélica, em Belém.
O fato ocorreu no dia de Natal, após uma discussão envolvendo uma vaga de garagem. A engenheira da computação Thayana Mamoré relata que no domingo (25) procurou o pastor na igreja perto de sua residência para reclamar que ele havia estacionado em frente à garagem da casa, impedindo a entrada e saída de veículos no local.
“Ele disse para eu tomar cuidado com a mão de Deus, e saiu atrás de mim. Fui arrastada para dentro da igreja, enquanto ele gritava que eu iria pro inferno porque eu era sapatão”, conta. A engenheira diz que sofreu uma série de tapas na cabeça, e foi atingida por um soco. “Fui vítima de crime de ódio”, conclui.
Sem ajuda
Thayana conta ainda que, durante o episódio, sua namorada foi impedida de entrar na igreja e socorrê-la, porque pessoas que assistiam o culto fecharam as portas do local. “Um vizinho viu a situação e conseguiu forçar as portas da igreja e me tirar de lá. Ele me salvou, porque eu não sei quanto tempo mais iria durar aquela sessão de violência”.
A engenheira diz que jamais imaginou ser alvo de um ataque homofóbico. “Na minha família, meu trabalho, meus vizinhos, todos me respeitam e aceitam minha condição. Um homem que é líder religioso agir assim é alarmante, porque ele tem poder de influência na fé das pessoas e dissemina esse ódio. Um homem que deveria pregar o amor, age de forma odiosa”, desabafa.
Homofobia e lesão corporal
O caso foi denunciado junto à DCCD, que atualmente funciona no prédio da DIOE, na terça-feira (27). O suspeito de ter agredido a engenheira foi intimado a depor na quinta-feira (29), para apresentar esclarecimento a respeito das alegações de injúria homofóbica e lesão corporal.
A delegada Hildenê Moraes, da DCCD, explica que Thayana já realizou o exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal, porém, por se tratar de um crime ainda considerado de menor potencial ofensivo, o Termo Circunstancial de Ocorrência (TCO) só será lavrado após o pastor prestar depoimento.
“Em casos como este, não há inquérito, mas sim o TCO. Ocorre que a legislação brasileira é falha e ainda não prevê homofobia como um crime grave”, explica.
Denúncia nas redes sociais
A engenheira denunciou o caso nas redes sociais após alegar que não havia recebido o devido atendimento na primeira delegacia que procurou. O caso ganhou repercussão entre os internautas e mobilizou uma rede de apoio que, segundo Thayana, foi fundamental para levar a denúncia adiante. “Recebi várias orientações sobre quem procurar. Consegui contato com a comunidade LGBT do Pará e procurei a Delegacia Contra Crimes Discriminatórios, onde recebi apoio”, relata.
Para o coordenador do Movimento LGBT do Pará, Rafael Ventimiglia, denunciar os casos de discriminação é fundamental para mudar a cultura do ódio que violenta as minorias. “Não denunciar prejudica toda a comunidade, porque já somos invisíveis nas estatísticas, então temos ao menos de denunciar”, diz.
A entidade social acompanha o caso de Thayana e demais denúncias de crimes contra os LGBTs. “Nosso papel é atuar na prevenção, por meio da busca de políticas públicas, e quando ocorrem vítimas, atuamos em rede para apoiar. Abrimos processos e acompanhamo, recebemos denúncias sobretudo por vias não oficiais, como as redes sociais, e acionamos a pessoa para que seja feita a denúncia”.
Fonte: G1